sábado, 18 de abril de 2009

Queimando gelo

Eu suponho que a febre esteja derretendo meus neurônios. Lentamente, e juntamente com a febre, meu pulso pesa para baixo e o pescoço arqueia, escasso, pedindo repouso. Repouso não só do corpo, mas dos olhos, da alma, e dos instrumentos que nós humanos usamos para perceber as coisas ao nosso redor. Repouso este, clamado, implorado, para ser completo, sem percepção de se quer um movimento a minha volta.
O pulso, o pescoço, eu os toquei e estava queimando. Os calafrios já disseram adeus à minha coluna vertebral.
Eu suponho que a febre não seja mais uma suposição, nem uma doença na minha vida. É apenas constante. É a febre da alma, não do corpo.
E, quem diria, de alma fria e confiante à cinzas.
"Só porque você sente, não significa que existe". Não sei te denominar todos os sentimentos, ou amarguramentos, que passam pelo meu corpo a cada instante - inclusive nesse - . Se quer sei se posso denominá-los como sentimentos, pois tais as vezes são imperceptíveis, e quando vejo suas consequências, para mim, são puros acidentes.
Acidentes. A vida se resume, muitas vezes, em vários desses, que só esperam para acontecer.
Nas massas glaciais de mim, surgiu como se fossem várias dinamites, que aqui agora causam uma explosão. Explosão no gelo.
O sangue que antes corria frio, por correr, corre calorosamente sem piedade ou preocupação de estar queimando demais sua moradia. - talvez porque ele não tenha consciência, como antes, sua moradia não tinha - .
Talvez eu tenha uma definição para o suor da palma das minhas mãos. Não deve ser nada além do gelo derretendo. Gelo, que tem me deixado com saudade dos calafrios, que as vezes, eram melhores do que as condições febris.
Definitivamente, queimando gelo. Decidiram por fim, aquecer sem pudor meu corpo, trazendo avalanches inconsequêntes, que claramente, não são de meu controle.
O gelo que era elemento crucial do meu corpo. Falava frio, sentia frio, passava frio. E agora queimo o que era apenas para aquecer. - Controle. Bendito este que jamais conheci - .
E agora, então, enquanto procuro por este tal, o suor - gelo derretendo - vai surgindo nas palmas de minhas mãos, escorrendo de minha testa, desestabilizando a temperatura. Ainda necessito do gelo, mas a fogueira é crucial. Se quer me restaram termômetros para uma idéia parcial.
Eu vou suar até queimar. Suando e ganhando temperatura. Temperatura demais. Eu vou suar até queimar o gelo, meu gelo.

O meu corpo - o meu gelo - . Estou queimando o meu corpo. Queimando gelo.

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