as rugas no nariz,
a lembrança do cheiro,
as únicas três palavras de que me lembro...
... bom dia, Nicodemo!
Não pode ser tão ruim. Não é tão ruim não acordar.
Se eu ainda fosse a antiga, ela lhe diria desesperadamente para dar a volta e entrar pela mesma porta, a qual ela passara vestígios de vida. Vida. É o que ela ainda achava que tinha.
Se eu, se ela, ou nós duas abríssemos a porta, o sapato ocre poderia impregnar na memória e dessa vez poderia ser do lado errado. Se o par destinto deixasse a imagem subir a gravata, talvez o nó jamais descesse pela nossa garganta.
Não engoli seco. Eu engoli o seco.
Mais três passos e suas ruguinhas do sorriso me assombrariam para sempre.
Se ele erguesse a mão direita para acenar, talvez o cheiro me sufocasse e eu já pudesse assinar o tratado da ignorância e aceitar as consequências que isso me trouxe.
E se, a última gota de misericórdia do mundo para comigo esvairisse e ele abrisse a boca para dizer as três que de tão malditas são benditas palavras, eu me paralisaria alí e não ouviria mais o som de nada, a não ser do sussurro da voz perdida na lembrança bem em minha frente.
Não pode ser tão ruim. Não é tão ruim acordar.
Não pode ser tão ruim, somente o fim, não acordar.
as rugas no nariz,
a lembrança do cheiro,
as únicas três palavras de que me lembro...
... boa noite, Nicodemo!