sábado, 26 de setembro de 2009

Necessidade do paradoxo

É estranho como se sentir vazio é a única coisa que pode completar uma vida e fazer dela plena.
A ausência faz das saudades o prazer maior. Não só as saudades do que temos consciência, mas também saudades daquilo que se quer conhecemos ainda.
O silêncio ecoa pelos cantos do peito que bate em sufoco. A glória toma conta do choro soluçado cheio de revolta e esperança.
O contrário faz um pacto com contrário dele mesmo. O antônimo se aninha ao simônimo e os dois caminham para formar a confusão que é se apaixonar.
É preciso, se é, sentir a pressão no peito, a falta de sono, o excesso de imaginação, os sintomas nauseantes das saudades, as dores de cabeça e não sentir nada ao mesmo tempo. Nem os pés, nem o chão, se quer os pés no chão. É preciso perder a cabeça, é preciso não lembrar que ela existe. É preciso botar os pés pelas mãos e usar os dois em revolta segundos após.
Gritar com a cara no travesseiro, planejar um milhão de destinos e cenários diferentes para cada momento o qual você também já imaginou. É preciso subir tão alto na imaginação e cair tão repentinamente que você ainda consegue sentir o gosto durante mais algum tempo. É preciso morrer de dor, de angústia, de saudades e de desejo. É preciso queimar e não ter receio a isso.
É preciso se apaixonar, mesmo que por uma coisa sem fundamento, mesmo que repentinamente, mesmo que por pouquíssimas frações de tempo, mesmo que pela coisa errada.
Preencher o vazio e assim o manter cada vez mais sozinho. É o paradoxo mais prazeiroso.