quinta-feira, 16 de abril de 2009

Mais um café com gelo, por favor.

Não que eu queira fugir das responsabilidades que me apontam, mas eu só queria deitar de noite e não sentir o peso do corpo fazer parecer que a cama vai desabar.
Não que eu queira escapar das dificuldades que me cobrem, mas eu só queria deitar de noite e não ter de me cobrir com o medo e insegurança dignos de fraqueza de novo.
Coisas pequenas vem se tornando tão grandiosas que tenho medo da minha mente engordar de tantos pontos cruciais latejando.
Queria achar todos, juntar todos, e os resolver como uma conta de primeira série. Fácil, como 1+1 é igual à 2.
Mas, assim como a matemática de uma criança, a evolução se põe constante em nossas vidas. Não só a boa evolução, a animadora, mas a pesada, a confusa. E nisso, o 1+1=2 se torna um 1+1=3 ou 4 ou 5 ou 1000!
A cabeça pulsa, o sangue esquenta, o corpo desaba. As decepções doem como faca incessante na carne.
Prestar atenção. Presto mais do que posso, formulo cada passo, treino cada atitude, planejo vários futuros. O erro, um erro, compromete tudo isso. O erro trás um medo, sem tamanho de tão grande, e eu não posso cair de novo, porque não é como uma criança num berço, é como um humano - criança ou adulto - na ponta de um penhasco.
Quem é o meu medo? O que eu preciso para detê-lo, ou ao menos enganá-lo? Onde está meu real pensamento positivo? O que preciso fazer para mantê-lo forte em mim? Eu tenho que, ou eu posso?
Não que eu queira fugir do mundo onde estou, e criar um onde eu sou a criança sem problemas para sempre. Eu só quero poder fazer do meu quarto o meu parque de diversões, e fazer dos problemas os brinquedos, em que o medo é prazeroso e passageiro, e a diversão nunca saia de cada parte do meu corpo.
E se a falha vier à tona em um dos brinquedos do meu parque? Eu, sinceramente, prefiro a morte na diversão com meu medo, do que na dor do medo sem piedade.
O problema, é que os segundos de diversão que se passa em cada brinquedo, tem sido transformados em anos. Cada segundo, um ano que me cobre. Hoje, só no dia de hoje, me considero com 24585516 anos. Sem contas de matemática corretas, por favor, porque digamos que elas sejam mais "segundos anuais" a serem contados no meu dia.
O prazer da vida está na profundidade de cada coisa, que é mil vezes maior do que a que imaginamos.
Um papel não é só um papel, assim como as cores vão muito além do que aparentam ser. Confuso, mas me faz, de alguma maneira, reduzir a velocidade dos meus segundos, que nisso já não são mais anos, e sim dias. - Calmamente tento reduzir, na espera da não falta de controle - .
Mas, isso aos seus olhos, pode ser nada mais do que um papo de fim de tarde, em que em seu decorrer, se pede por mais um café pequeno na padaria. Café, amargo aos olhos de uma criança, e rotina nos de um adulto. E então? A criança que diz a verdade, ou o adulto que finge que tudo é bom?
Café. Amargo, bom. Fico com o amargo adulto - como as minhas tardes - ou opto por chupar um gelo que cai do céu no que era pra ser chuva? - infantil e gelado, percorrendo minha alma - ?
"Me vê mais um café. Um café com gelo, por favor."

Um comentário:

  1. Uau! Que profundidade! Vc mesmo que escreve esses belíssimos textos?!? De onde vem tanta inspiração? Realmente nos acostumamos a dura rotina que nos açoita, que aliena, não sobrando mais ócio filosófico para a reflexão, por isso mentimos quanto ao Café... enquanto a criança, essa sim, por excelência é a grande filósofa que se espanta com a realidade a cada instante (Tauma em grego), se maravilha e se aterroriza ao mesmo tempo, pelo fato de ainda não estar corrompida pela convenção daquilo que chamamos de realidade... Enxerguei nesse texto, sua angústia da necessidade de encarar a vida de forma lúdica e prazeiroza... Espero contribuir para que seu quarto se torne, novamente... um parque de diversões...

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