quinta-feira, 26 de março de 2009

Lalala

Eu disse calma. Eu disse colorido.
Ofegância e escuridão vieram primeiro.
Eu disse que iria gritar até as cordas arrebentarem, até que suas cabeças se enjuriacem.
Quem vem pra acalmar e colorir? Quem é inteiramente felicidade?
Eu disse dance até o pé cortar e a perna desabar.
O corpo inteiro já se cortou e desabou antes da dança.
E tudo o que eu disse foi virando trilha sonora do passeio no carro.

Eu disse amor primeiro, abrace-o para o proteger.
Cada um se abraçou, e o amor disparou sozinho pela janela.
Eu disse corram para salvá-lo.
Todos se abraçaram chorando, as mulheres primeiro, os homens de olhos fechados.
Eu disse que só se importam quando há perda, e todos levantaram as cabeças, em ataque.
Eu disse que iria permanecer gritando, até que isso se tornasse trilha sonora do passeio no bosque.

Eu disse que as crianças iriam achar doce, iriam chamá-lo para brincar.
Os vizinhos continuaram sentados em degraus.
Eu disse que o medo vai ser predominância nas suas cabeças, que isso não é realmente felicidade.
Eles disseram pra sair da rua, e eu disse que o medo deles não pode ser só o visível.
Eu disse ninguém aqui se conhece.
Eles continuaram com os fones, e tudo o que disse foi virando um ritmado quase igual à um inútil, normal e mesmítico lalala.

Eu disse que não pararia de dançar até que isso os contagie.
Eles disseram que estavam cansados do trabalho.
Eu disse que isso os corta e os desaba.
Eles disseram que a dança é ainda mais cansativa.
Quem é o real cansado? E o que é cansaço?
Eu disse dancem primeiro, até o corpo todo se cortar e desabar.
Eles disseram que não precisam da dor pra saber quando parar.
Eu disse que a dor deles não pode ser só a perceptível ao corpo.
Eu perguntei quem é o medroso?
Eles viraram e já estavam em sono.
E tudo o que eu disse está gravado numa fita qualquer, sempre acompanhada pela mesma ritmização.

Eu disse que procure a fita.

Um comentário:

  1. como se houvesse um "eu lírico" que narra a vida de cada um, trazendo consigo as dúvidas, as soluções de problemas, as coisas que acontecem/poderiam acontecer... e acima de tudo, nos ajuda de alguma maneira, dizendo que o medo se opõe à felicidade... ou dizendo que a dor não deve ser o limite para saber que deve-se parar...e tudo, fica gravado numa fita, que poderia ser a memória da pessoa que possui esse "eu lírico" que nos ajuda a compreender a vida..

    =D

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