terça-feira, 17 de março de 2009

20:20

Antes de fechar os olhos numa ação de desistência, serrei-os num foco cujo não sei determinar qual era. Qualquer coisa que me lembrasse a cor, o cheiro, ou até um movimento, o qual pegou meu corpo em desconcerto.
Quando olhei no relógio, o horário marcava igual entre as horas e os minutos: 20:20. Podia não ser nada, na verdade, não era nada, mas pra quem procurava vestígios ou pistas, era considerável.
Ainda mantendo os olhos fechados, imóvel e empuleirada por entre as colchas e lençóis, consegui lembrar-me de algo que é vago, mas se sobressaiu em minha mente como um desespero, um grito sufocado, que com certeza teria saído dessa forma se não fosse o meu cansaço. Lembrei-me perfeitamente, por fim, de todas as ruguinhas que se formaram desde os cantos de seus lábios até os cantos dos olhos, naquele sorriso repuxado e perfeito, que se abria devagar sem pressa ou culpa alguma de me impressionar, porque de alguma maneira ele tinha consciência de que fazia isso. Um sorriso que não via há meses.
Toda essa impulsiva, incontrolável, doentia, mas maravilhosa lembrança me pegou de guarda baixa. Há tempo que não conseguia lembrar-me perfeitamente de algo que fizesse eu me sentir tão próxima de novo. Mas eu procurei por isso, e encontrei.
Deu tempo o suficiente para uma apreciação que seria notável se a porta e as janelas não se encontrassem fechadas. O suficiente, mas nem sempre isso é o bastante. Durou apenas uns quatro segundos e meio, no máximo. O suficiente para me fazer refém a isso.
Quando vi que meus quatro segundos e meio de felicidade incontestável acabaram, continuei com os olhos fechados, e os forcei, numa tentativa sem sucesso de me manter em delírio não pelo tempo suficiente, mas pela eternidade. Como disse, tentativa sem sucesso. E em poucos segundos me vi numa reação terrível, era como se eu estivesse caindo do céu, do paraíso, para o meu inferno particular, que era qualquer lugar em que eu não encontrasse vestígios.
Recuei um pouco do cenário do delírio, como se fosse afastar a dor, que em questão do tempo de um piscar tomou conta de cada parte minha, e eu já não tinha controle de nada, de novo.
Eu queria, precisava apreciar mais daqueles segundos que em minha mente vinham como a lembrança da lembrança, tão maravilhosa, que parecia embrulhada em veludo.
Eu parecia tão invisível pra mim mesma, que não sei como me notavam viva ainda. - Devia ser pela minha aparência semelhante a de um zumbi recém-criado. - Arfei par dar início à um choro de desespero que durou um bom tempo, mais do que devia, tempo suficiente para me desesperar ainda mais. - o tempo estava limitado, mas sempre o suficiente para uma colaboração considerável para com minha insanidade - .
Minhas reações andam sendo misteriosas e estranhas para mim mesma. Eu não me noto, não me conheço, não me importo...
Além de meus sentimentos, além dele, da minha alma e de meu corpo, eu estava sendo hostil comigo, e não me importava.
Me senti presa à uma doença particular, na qual a cura era de minha consciência, mas não de meu poder. Me senti presa à isso, doentiamente, de novo...

20:20. E era tão doentil e sem explicação, que um relógio se tornara motivo, ou realmente era.

Nenhum comentário:

Postar um comentário