sábado, 20 de junho de 2009

Mais um relato da tal menina

Não foi, nem deixou de ser.
"...e mais uma vez, ela perde o senso, treme e bambeia sobre as pernas sem força alguma, insistindo em segurar a boca numa tentativa falida de não trincar os dentes. Mais uma vez, ela vê o portão, a cicatriz do dedo, a rua, a luz - ou a falta dela -, o pequeno muro, e as árvores que serviram de esconderijo dos laços. Mais uma vez, ela repete para ela própria a mesma história, passa o mesmo filme, canta a mesma música, e percebe - mais uma vez - que ainda há um laço preso, muito bem preso naquele passado tão presente...".
Como aquele velho costume, que ela tenta perder, enganar, e sempre acaba o repetindo, subiu as escadas correndo para relatar que o vira. E neste momento, a falta palavras, e bem mais do que isso, a falta fôlego, e ela não consegue se quer reparar que ainda não parou de trincar os dentes.
Sabe, eu como um eu observador sinto uma angústia por ela. E me faz trintar os dentes a vendo trincar tanto os dela, sem se quer perceber.
O frio passa despercebido por ela, e o corpo todo trêmulo se deve a falta de adrenalina que ainda não foi reposta, e nós já sabemos que demorará a ser.
E sabe, dói também saber que a tempestade demorará a sair dela, e já se percebe a chuva se formando por trás dos cílios compridos enquanto ela tenta relatar o que pra ela é indescritível. Ainda assim, não a queremos desistindo. Talvez quando ela conseguir por tudo aquilo que para ela é como a luz do sol em forma de palavras, ela se veja livre da nebulosidade e faça o sol, o verdadeiro, nascer e por lá ficar.
Ainda deve estar preso na garganta o grito que ela tanto desejou/deseja soltar e que teve de ficar sufocado para não sair sombrio e destruidor de tão agudo.
Sem forças, ela persiste e não quer ir para a cama, numa tentativa de evitar que o céu desabe. Ela insiste em dizer que a chuva já passou por lá, que ela já a secou. Mas, quem terá a bravesa e a coragem de lhe contar a crua verdade? Deixe que o céu desabe aos poucos, porque talvez, se o mesmo desabasse por inteiro, ela já não aguentaria.
Quem de nós é digno o bastante para lhe avisar de que não foi, já que também não deixou de ser?
Quem de nós é o que é o bastante para lhe julgar o amor? Mas nada podemos fazer, se a chuva não quer parar de cair...
E do que estou falando? Quem sou eu para dizer que ela não consegue relatar tamanho amor, enquanto eu mesmo não consigo lhe relatar a aparência? Tal aparência que, com certeza me assombrará hoje quando deitar tentando repouso.
Tamanho amor, que a faz dormir, acordar e viver num só sonho.
Falando em dormir, acho que ela começará com o mesmo sonho agora, pois os olhos estão se fechando.
"Em silêncio me obrigo agora, para que ela possa, ao menos neste momento, ficar em paz".

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