domingo, 10 de maio de 2009

Tesouro do cortante mineral

Ela olhava desatenta as fotos da caixa que há anos tem guardada num canto qualquer do guarda-roupas. Qualquer mero detalhe de importância maior passava despercebido. Ela mal sabia o porquê estava vendo aquelas fotos - talvez costume - e nem sabia o que procurava ao mexer na poeira em cores.
E do desatento ao improvável, se viu presa em um olhar, um par de olhos bronze. Se quer se lembrava da imponência dos tais, mas agora, com certeza, teria se lembrado da força que os mesmos exerciam sobre o par dos dela. Frágil par, que se quer ocilava para tentar fugir. Estava preso, e gostava.
Ainda sem perceber, se viu rodando pela sala, como em dança da época. Perambulava em pequenos saltos, imaginando que seu par a conduzia. O par, dono do par de olhos.
Brindava com alegria esplícita a euforia que a tomava. Com certeza também não percebia a ofegância em seu peito, nem os sorrisos que não escapavam dela se quer por um instante. Dançava olhando para o mesmo foco, foco de imaginação do par de olhos.
Num desastre também não esperado, como todos os outros acontecimentos daquele fim de tarde, se perdeu num desabar ao chão, como se houvesse sido empurrada pelo seu par. Os lábios antes abertos em contração de felicidade, desabaram como dois troncos duros de árvores. Os olhos que se ligavam no par bronze, desabaram ao olhar a ponta de seus pés, que agora estavam recuados.
Tremendo em desconcerto, se arrastou pelo chão a fora, voltando ao quarto, guardando as relíquias desordenadas pela cama, e se escondendo no ninho de lençóis.
Observando, talvez, fosse costume esquecido para ela, assim como era ver as lembranças cortantes ao encontrar o bronze.

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